Ao longo dos séculos a indústria de seguros cresceu exponencialmente e tornou-se cada vez mais complexa. Quando no final do século XVII Edward Lloyd, proprietário de uma taberna próxima às docas de Londres, onde se reuniam os agentes de seguros marítimos da cidade, criou a mais famosa seguradora. Navios eram o grande negócio da época. Usando as observações que fazia, Edward criou também o Lloyd News, com informações e notícias sobre o transporte marítimo, fazendo de seu estabelecimento um centro de atividade de seguros marítimos e a seguradora um negócio de sucesso.
No transporte entre a Europa e as “Índias Ocidentais” estimavam-se perdas totais em 25% dos casos, mas os ganhos poderiam chegar a 2.000% em alguns casos. No entanto, um retorno de quatro vezes o capital investido, era um padrão esperado. Ainda era relativamente simples o cálculo do valor das apólices, apesar dos valores elevados envolvidos. Consta entre as lendas da empresa que o Lloyd se recusou a segurar bulbos de tulipa na Holanda, porque não sabia calcular os riscos.
É claro que muita coisa mudou, mas alguns princípios vêm de séculos da prática do mecanismo de negócios que é o seguro. Hoje eles não têm mais contratos com seus colegas de caravana pelo deserto, e sim com companhias de seguros. Porém, continua valendo a regra que o risco deve ser incerto, que deve haver boa-fé e que todos os envolvidos devem cumprir o que foi combinado.
O aumento dos volumes de contratos e das variáveis envolvidas tornaram os cálculos atuariais cada vez mais complexos e a individualização se concentrou mais nos seguros de alto risco, como de plataformas de petróleo. Nesse caso, entram em consideração, além da própria engenharia construtiva, a qualidade operacional da petroleira e a localização da plataforma – o mar do Norte é certamente mais perigoso do que a costa do Rio de Janeiro, por exemplo.
Durante um período recente, seguros de pequeno valor, como vida em grupo e automóveis, não mereciam maior investimento das empresas e seu canal preferencial de vendas eram os bancos comerciais – eram típicas vendas “casadas”, um empréstimo pessoal mais um seguro de vida.
Mas, gradativamente, as seguradoras e os corretores de seguros aprenderam a valorizar características individuais, como histórico de acidentes e idade, para fixação dos prêmios dos seguros de automóveis. Já era então, um bom uso de análise de dados, pois pesquisas indicavam a incidência de acidentes por idade do condutor, por sexo, por distância entre moradia e local de trabalho e outros fatores. Individualização do segurado, mas não customização das reais necessidades dele.
Ao longo dos últimos anos foi sendo intensificada a análise de dados pela indústria seguradora, principalmente com a disponibilidade crescente de recursos de inteligência artificial para maior individualização da análise e para a construção de contratos inteligentes, além de aspectos como prevenção de fraudes e aceleração/ desburocratização do pagamento de sinistros.
Com algoritmos pautados em redes neurais e machine learning criados para foco em diálogos virtuais, a IA permite aprimorar a experiência dos clientes, personalizar os contratos e facilitar o entendimento entre as partes. A conjunção, por exemplo, da IA (da seguradora) com os recursos de assistentes virtuais, como Alexa ou Google Assistente, pode oferecer um canal de fácil utilização para conversar e obter respostas.
Esse tipo de IA generativa permite às seguradoras criar experiências mais envolventes e relevantes para seus segurados, melhorando a jornada de consumo e a eficácia das comunicações. O canal e os conteúdos se tornam mais específicos para cada segurado com base em seus interesses e necessidades individuais, incluindo a personalização de emails, mensagens de texto e outros tipos de comunicação. Adicionalmente, ele pode ser usado para desenvolver chatbots de nova geração, alimentados por IA, que possam responder a perguntas frequentes, mas pessoais, como o status de uma reivindicação ou como renovar uma apólice, com base em suas preferências, histórico de sinistros e outros fatores.
As empresas do setor podem utilizar essa tecnologia como ferramenta para analisar de forma inteligente e autônoma grandes volumes de dados, permitindo prever melhor os comportamentos futuros dos segurados e facilitando às seguradoras personalizar as recomendações de cobertura de seguro para melhor atender às necessidades individuais. Essas são algumas das consequências positivas que a tecnologia, quando usada em sua capacidade máxima, é capaz de proporcionar para os clientes. Já para as seguradoras, os benefícios somados são incalculáveis, a começar por uma melhor precificação do seguro pelo entendimento mais preciso dos riscos de cada contrato.
Bom, os recursos estão aí disponíveis. Qual sua resposta quando a pergunta é: você está aproveitando tudo o que a tecnologia pode proporcionar aos seus clientes?
Brain Comunicação
Por Fabricio Visibeli, sócio-diretor na CBYK, desenvolvedora de software e de soluções personalizadas de TI.
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