Em meio à intensificação dos eventos climáticos extremos e ao aumento das perdas econômicas globais, a MAPFRE lançou um alerta: os riscos extraordinários provocados pelas mudanças climáticas exigem novas estratégias de proteção social e econômica.
A reflexão norteou dois painéis promovidos pela companhia, na manhã desta terça-feira (18), na Casa do Seguro, durante a COP30, em Belém (PA). Os debates analisaram as lacunas de cobertura existentes e discutiram como a inovação em seguros — sobretudo no mercado de carbono — pode oferecer respostas estruturais aos desafios deste século, ao mesmo tempo em que aponta oportunidades para fortalecer a resiliência coletiva.
O primeiro painel reuniu representantes de ANBIMA, IPCC, MAPFRE e Ministério da Fazenda, sob a moderação de Mónica Zuleta, diretora global de Sustentabilidade da Segurança. Ela reafirmou o compromisso da companhia com a transição energética, a conservação da natureza e a neutralidade de carbono até 2030. Zuleta lembrou que os efeitos das mudanças climáticas — como enchentes, secas e queimadas — já são realidade e exigem cooperação entre governos, empresas e sociedade civil para reduzir seus impactos.
Integrante do debate, o cientista Paulo Artaxo, do IPCC, destacou que o planeta caminha para um aumento médio de 2,83°C, podendo chegar a 4,5°C no Brasil. Ele defendeu que a resposta a esse cenário deve combinar redução de emissões, adaptação e gestão de impactos.
Segundo Artaxo, a frequência e o custo dos eventos extremos mais que dobraram nas últimas décadas, afetando com mais intensidade países de renda média e baixa. O pesquisador também alertou sobre os chamados pontos críticos do sistema climático, como a possível savanização da Amazônia, e lembrou que “a adaptação deixou de ser uma opção; quanto antes ocorrer, serão menores os custos sociais e econômicos”.
Ricardo González García, diretor de Análise e Estudos Setoriais da MAPFRE, apresentou um estudo que confirma a tendência consistente de aquecimento global com base em dados da NOAA, Copernicus e JRA. O levantamento mostra que, desde os anos 1970, o avanço das emissões ampliou tanto as perdas não seguradas quanto os prejuízos causados por catástrofes naturais — em especial furacões, enchentes e riscos secundários.
García explicou que, enquanto a Ásia concentra uma maior “brecha de proteção”, a América do Norte apresenta uma menor, graças à ampla cobertura de seguros. Ele defendeu a ampliação de parcerias público-privadas, como o Consórcio de Compensação de Seguros da Espanha, e o fortalecimento de instrumentos financeiros inovadores, como resseguros e cat bonds [títulos de catástrofe], que alcançaram um retorno médio de 17% no último ano.
A relevância do setor de seguros também foi ressaltada pelo subsecretário do Ministério da Fazenda, Vinícius Brandi. Para ele, a indústria é peça-chave na transição para uma economia sustentável. Brandi lembrou que o setor já administra R$ 1,8 trilhão — de 15% a 20% do PIB —, demonstrando maturidade próxima às melhores práticas internacionais.
Brandi citou ainda a Lei Complementar 213, que incorporou a sustentabilidade como objetivo central, e destacou que a modernização das regras do Conselho Monetário Nacional deve dar mais clareza e transparência aos investimentos sustentáveis.
Na avaliação de Luiz Pires, gerente de Sustentabilidade e Inovação da ANBIMA, o avanço regulatório se soma ao esforço de capacitação em finanças sustentáveis, que já formou mais de 3,6 mil profissionais em temas como risco climático e inventário de emissões. Pires reforçou que, para o movimento ganhar escala, será fundamental desenvolver novos instrumentos financeiros — de letras de crédito atreladas ao seguro a cat bonds — e ampliar o uso de blended finance [financiamento híbrido] para destravar projetos de impacto socioambiental.
Consolidação do mercado de carbono no Brasil
O segundo painel aprofundou o debate sobre os instrumentos financeiros e regulatórios, com foco na consolidação do mercado de carbono no país. Moderado por Fábio Damasceno, diretor técnico da MAPFRE, o encontro destacou que a neutralidade de carbono deixou de ser tendência e passou a ser obrigação estratégica, tornando a integridade e as condições de transparência essenciais para o funcionamento do mercado.
Daniel Vargas, docente da FGV, defendeu que o Brasil deve transformar seus desafios ambientais em oportunidades, construindo um regime de transição que alinhe incentivos e reduza incertezas. Vargas listou cinco obstáculos centrais: metodologias adequadas ao contexto tropical, complexidade do uso da terra, governança de Estado, regras claras com força legal e prevenção da judicialização.
A discussão sobre riscos e governança foi ampliada por André Andrade, diretor do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Ele citou projeções que estimam perdas de R$ 17 trilhões até 2050 em um cenário de aquecimento de 4°C, num contexto de baixa cobertura securitária.
Com base nesse diagnóstico, Luisa Heráclio Panico, coordenadora-geral de Governança da Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono, destacou que o Brasil vive um momento decisivo na estruturação do mercado, dividida entre os segmentos voluntários e regulados. Ela explicou que, até 2026, caberá à secretaria definir metodologias, regulamentar a lei e propor a criação de uma autoridade permanente — etapa considerada essencial para o pleno funcionamento do mercado regulado a partir de 2030.
Construção da confiança e novos instrumentos
Luisa Heráclio Panico, da Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono, também abordou a importância de construir confiança e previsibilidade. Segundo ela, o risco de reversão — quando o carbono estocado retorna à atmosfera por incêndios, secas ou enchentes — já é tratado no mercado voluntário por meio do buffer pool [estoque coletivo de créditos de carbono reservados para compensar eventuais perdas].
Esse modelo, acrescentou, pode evoluir para produtos securitários mais sofisticados, desde que o país avance em três frentes: previsões econômicas, comunicação transparente sobre a proteção climática e florestal e normas com parâmetros claros de cobertura.
O diretor da Reservas Votorantim, David Canassa, reforçou que a expansão dos projetos ambientais depende de seguros capazes de cobrir riscos ainda pouco explorados. Ele citou a atuação da instituição em 140 mil hectares nos biomas Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado, e destacou a parceria com a MAPFRE no Vale do Ribeira (SP), onde o reflorestamento passou a integrar o inventário de carbono da empresa. “Garantias e previsibilidade são fundamentais para destravar investimentos em conservação e bioeconomia”, afirmou.
Encerrando o painel, Mariana Barbosa, CEO da Regreen, destacou que o mundo precisará remover entre 7 e 9 gigatoneladas de carbono até 2050, mas ainda enfrenta obstáculos como financiamento, acesso à terra e gestão de risco. Já Maria Belén, superintendente de Mercados de Carbono do Itaú, reconectou o debate às estruturas financeiras, apresentando uma estratégia do banco baseada em projetos, desenvolvimento de produtos e atuação no mercado futuro. Ela chamou atenção para três frentes de risco prioritárias para o setor de seguros: projetos florestais no agronegócio, permanência do carbono por 20 anos e riscos associados ao fogo — lembrando que as buffers pool só devem ser acionados em casos de perdas inevitáveis.
Assessoria de Imprensa CNseg
Foto: Subsecretário do Ministério da Fazenda, Vinícius Brandi, em palestra na Casa do Seguro
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