O que
No dia 10 de maio, os Estados Unidos elevaram as tarifas de importação sobre o equivalente a US$ 200 bilhões de importações da China. O Presidente americano Donald Trump também ameaçou que outros US$ 300 bilhões (i.e. todas as demais importações da China realizadas pelos EUA) poderiam ser afetados em breve. Isso ocorre logo após a divulgação de uma série de dados indicando um crescimento do comércio global abaixo do esperado: as exportações da Coreia do Sul, geralmente um bom indicador do comércio mundial, têm caído desde o início do ano, e os pedidos globais de exportação têm diminuído por sete meses consecutivos. Além disso, de acordo com o Escritório de Análise de Políticas Econômicas (CPB) dos Países Baixos, os volumes de comércio global caíram cerca de 1.1% no primeiro trimestre do ano. Pela primeira vez desde a crise do Lehman Brothers, o comércio global diminuiu por dois trimestres consecutivos (veja o gráfico). Com base em um modelo estatístico usando dados sobre confiança empresarial nos EUA, exportações da Coreia do Sul, preços do petróleo Brent e o Índice Báltico para transporte marítimo como variáveis explicativas, a Coface espera que o comércio global caia cerca de -0.7% (média anual) este ano, apesar de uma recuperação esperada do Q2 ao Q4 de 2019 (+0.2 a 0.3% em base trimestral; veja as barras verdes no gráfico).
Comércio global (mudança % nos volumes em base trimestral)
Fontes: CPB, Projeções da Coface
Por que
Há vários elementos que têm impulsionado esses desanimadores dados comerciais:
1) O protecionismo comercial tem crescido constantemente em muitos países desde 2009. De acordo com a organização Global Trade Alert, 73% das exportações dos países do G20 estavam enfrentando políticas comerciais restritivas em 2017. Ele entrou em uma nova fase em 2018, quando os Estados Unidos implementaram tarifas sobre 13% de suas importações; seus parceiros comerciais subsequentemente retaliaram atingindo 6% das exportações dos EUA. Porém, os efeitos do protecionismo sobre o comércio global não devem ser superestimados: de acordo com o FMI, a maioria das mudanças nas balanças comerciais bilaterais nos últimos 20 anos pode ser explicada por fatores macroeconômicos, ao passo que as tarifas exerceram um papel menor 1.
2) O menor nível de crescimento do PIB global é um desses fatores macroeconômicos citados acima: a Coface espera que o PIB global cresça cerca de 2.9% este ano, uma queda de 0.3 pontos se comparado a 2018. Esse seria o menor nível observado desde 2016, o último ano no qual o crescimento desacelerou conjuntamente nas 3 maiores economias mundiais (Zona do Euro, Estados Unidos, e China). Não surpreende portanto que setores industriais pró-cíclicos (automotiva, construção, produtos químicos) que exercem um papel chave no comércio global corram maior risco nesse estágio inicial da fase de retração econômica.
3) Além do nível de crescimento do PIB, outros fatores estão envolvidos, na medida em que a proporção entre comércio global e crescimento do PIB global diminuiu de 2 para 1 nos últimos 10 anos. Mudanças estruturais como terceirização, o fim do boom das commodities, e o amadurecimento das cadeias globais de valor também exercem um papel importante.
Riscos
Os riscos para o comércio global e o crescimento do PIB (o primeiro costuma ser um indicador chave deste último) estão claramente em queda:
1) Devemos admitir, o impacto direto das últimas medidas protecionistas parece ser administrável nesse estágio:
a. Na China, espera-se que as medidas adotadas pelos EUA desde o início de 2018 (incluindo a mais recente no dia 10 de maio) custem cerca de 0.8% do PIB, mas elas são parcialmente contrabalançadas por políticas fiscais e monetárias mais expansionistas;
b. Nos Estados Unidos, as perdas anuais acumuladas resultantes das decisões tomadas em 2018 são desprezíveis (0.04% do PIB 2). A mais recente rodada de aumentos tarifários dificilmente mudará significativamente esse quadro, pois as mercadorias afetadas pelo aumento dos preços de importação representam apenas 1% do PIB.
2) Mas os efeitos do contágio sobre as cadeias globais de valor entraram em cena agora: tarifas maiores nos EUA têm um efeito direto sobre o país afetado (i.e., a China), mas também efeitos indiretos sobre seus fornecedores. Em outras palavras, os exportadores alemães serão afetados pelas tarifas americanas sobre a China pois a Alemanha é seu principal fornecedor de autopeças. De acordo com a pesquisa da Coface 3, aumentar as tarifas aplicadas pelos EUA em 1% para qualquer dado país leva a uma diminuição de 0.6% nas exportações de manufaturados de valor agregado de um país parceiro para o país afetado pelas taxas alfandegárias. Esse impacto indireto é especialmente alto para segmentos tais como transporte (incluindo o setor automotivo), máquinas e equipamentos, e produtos eletrônicos, i.e. aqueles almejados pelos EUA no comércio com a China.
3) Nossa projeção de base não presume nenhuma medida protecionista significativa adicional, mas:
a. O risco de uma rodada final de aumento de tarifas sobre cerca de US$ 300 b das demais importações dos EUA oriundas da China é alto;
b. É provável que a China retalie após a decisão dos EUA, especialmente considerando que as 2 maiores economias mundiais perceberam que estão agora em uma fase de concorrência estratégica que veio para ficar no longo prazo;
c. A “outra guerra comercial”, i.e. uma possível imposição de maiores tarifas dos EUA sobre as importações automotivas das UE continua a ser uma questão pendente. Espera-se que os EUA anunciem sua decisão no dia 18 de maio, mas esse prazo poderá ser adiado.
Se esses cenários de risco se tornarem realidade, é provável que haja uma queda adicional na confiança empresarial e uma retração nos mercados de ações globais.
1 World Economic Outlook/Perspectivas Econômicas Mundiais, Capítulo 4: “Drivers of bilateral trade and spillover from tariffs” (“Impulsionadores do comércio bilateral e as repercussões das tarifas”), Fundo Monetário Internacional abril de 2019.
2 https://www.econ.ucla.edu/pfajgelbaum/RTP.pdf
3 US Trade Protectionism: what are the knock-on effects on global value chains?(“Protecionismo Comercial dos EUA: quais são os efeitos econômicos sobre as cadeias globais de valor?”), panorama da Coface, outubro de 2019.
Tamer Comunicação
Foto/imagem: tarobanews.com
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