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Atenção primária: quem conhece gosta

15 de janeiro de 2019
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“Fui a tantos médicos nos últimos meses. Preciso de um que junte tudo”. A queixa ouvida de um paciente em uma sala de emergência e registrada, em 2002, pela médica Barbara Starfield, uma das principais estudiosas do modelo de Atenção Primária à Saúde (APS), representa o sentimento atual de grande parte dos beneficiários da saúde suplementar no Brasil.

Todos os anos, milhões de brasileiros seguem um roteiro que aumenta o desperdício de recursos. E, o pior: sem que o investimento gere ganhos expressivos de saúde. Por que nosso modelo assistencial funciona assim? É preciso reconhecer que, nas últimas décadas, o mercado privado reforçou a cultura do livre acesso a especialistas e tecnologias.

Não é razoável, portanto, esperar que mude da noite para o dia. A valorização da APS na saúde suplementar é uma construção coletiva que precisa começar a acontecer e a ser compreendida. É um processo de mudança cultural de todos os envolvidos (beneficiários, operadoras, prestadores e empregadores). O sucesso das iniciativas das operadoras depende do engajamento dos beneficiários e de toda a cadeia produtiva da saúde.

A estratégia elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1978 é um modelo vencedor em vários países, inclusive no Brasil por meio do SUS. Com ele, 80% dos problemas de saúde são resolvidos sem que o paciente precise ser encaminhado a serviços especializados. A procura por unidades de urgência e emergência cai 29%. Há redução de 17% das demandas por internação. A porta de entrada no sistema de saúde se dá por meio de uma equipe multidisciplinar, com um médico de família à frente, que assume a coordenação do cuidado. A experiência tem demonstrado que quem conhece gosta. A qualidade de vida melhora a partir das mudanças de comportamento induzidas pela APS. Com uma força de trabalho mais saudável, as empresas observam ganhos de produtividade. É bom para todos.

No Brasil, no entanto, as pessoas ainda estão acostumadas a priorizar o modelo fragmentado. Essa é uma cultura que precisa mudar, como salientou o médico Lewis Sandy, vice-presidente da UnitedHealth Group. Nações desenvolvidas como Inglaterra, Dinamarca e Noruega têm em comum o fortalecimento da APS.

Curioso para saber o que vem primeiro (o desenvolvimento econômico e social ou a valorização da APS), o professor Gustavo Gusso, da Universidade de Saúde (USP), disse ter feito essa pergunta, certa vez, a Barbara Starfield. A resposta dá a dimensão do desafio que o Brasil e a saúde suplementar têm pela frente: “As duas coisas devem andar juntas”.

Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde

  • publicado em 9/1 no Jornal O Dia

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