O Brasil viveu, ao longo da década de 1980, um dos períodos econômicos mais desafiadores da sua história recente: a hiperinflação. Esse fenômeno, que corroía o poder de compra dos cidadãos diariamente, deixou marcas profundas na nossa cultura financeira. Mesmo após décadas de estabilidade monetária, o comportamento imediato, quase instintivo, de gastar rapidamente o que se tem ainda ecoa no cotidiano de milhões de brasileiros. A lógica por trás disso é simples: naquele contexto, guardar dinheiro era sinônimo de perda.
Esse passado nos ajuda a entender por que tantos ainda associam dinheiro exclusivamente ao consumo imediato, sem refletir sobre o futuro. E aqui reside um dos grandes desafios da educação financeira no Brasil: reverter esse modelo mental e construir uma nova relação com o dinheiro — uma relação baseada na consciência, na responsabilidade e, sobretudo, na previsibilidade.
A educação financeira, por definição, nos orienta a equilibrar necessidades presentes com objetivos futuros. Ela não nega o consumo, mas propõe que ele seja planejado, que caiba dentro de um orçamento realista, e que ande lado a lado com a poupança, o investimento e a proteção. Nesse cenário, o papel dos seguros é central — e não apenas como produtos financeiros, mas como instrumentos de estabilidade e segurança para as famílias brasileiras.
A prevenção é um conceito poderoso. Quando falamos em seguro, falamos sobre proteger aquilo que já foi conquistado com esforço — seja um patrimônio físico como a casa, o carro, ou mesmo bens menores como eletrônicos — mas também falamos sobre proteger o futuro, a capacidade de continuar sonhando e realizando mesmo diante dos imprevistos. E o imprevisto, sabemos, não manda aviso.
Seguros fazem parte de um bom planejamento financeiro justamente por isso: eles evitam que um contratempo — como um acidente, um problema de saúde, um roubo ou mesmo uma morte inesperada — desestabilize toda a estrutura financeira de uma família. E é importante dizer que planejamento financeiro não é um privilégio de quem tem altos rendimentos. Ao contrário, é uma ferramenta acessível, possível, e que faz ainda mais diferença entre aqueles que têm orçamentos mais justos. Destinar 5%, 10% da renda mensal à proteção e ao futuro é, sim, viável, desde que haja organização e prioridade.
Vale lembrar que a previdência complementar é uma das formas mais eficazes de se preparar para um futuro mais tranquilo. Ela funciona como uma poupança de longo prazo, mas com o benefício adicional dos juros compostos — o famoso “juros sobre juros”. Quanto antes se começa, maior será o acúmulo ao longo dos anos. E, considerando o aumento expressivo da expectativa de vida no Brasil, esse tipo de planejamento torna-se ainda mais necessário.
Com os avanços da medicina, da tecnologia e do saneamento básico, não será incomum que as crianças de hoje vivam até os 100 anos. Isso é uma conquista da humanidade, mas também nos impõe uma reflexão séria: como sustentar 30 ou 40 anos de vida após a aposentadoria, quando a capacidade laboral já tiver diminuído ou mesmo cessado? Essa é uma equação que não se resolve apenas com boa vontade. Ela exige planejamento de longo prazo, visão e disciplina.
A resposta para essa questão está na base: educação. Uma sociedade financeiramente equilibrada começa pela inclusão da educação financeira no currículo escolar. As crianças devem crescer compreendendo o valor do dinheiro, a importância da poupança, o papel dos seguros e a necessidade de se planejar para um futuro cada vez mais longevo. Aprender desde cedo que consumo e prazer imediato não precisam ser inimigos da segurança e do bem-estar futuro é um passo fundamental para uma geração mais preparada. Mas não devemos esperar apenas pelas novas gerações. Os adultos de hoje ainda têm tempo e instrumentos para construir esse caminho.
Acredito profundamente que, à medida que a sociedade brasileira se apropriar desses conceitos, teremos um país mais justo, mais resiliente e mais saudável financeiramente. Onde o dinheiro será, de fato, um instrumento de liberdade, e não de ansiedade. Onde as famílias poderão viver com mais tranquilidade e dignidade. E onde o seguro será compreendido não apenas como um produto, mas como parte essencial de uma vida bem planejada.
PROS Comunicação
*Por Edmir Ribeiro, presidente do Sindicato das Seguradoras Norte e Nordeste (Sindsegnne)
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