Quatro em cada cinco pessoas das 10 maiores metrópoles do mundo acreditam que as cidades em que vivem, em alguma medida, não estão organizadas para gerenciar os riscos climáticos e seus impactos. É o que mostra o estudo Resilience from the ground up: assessing city-level approaches to climate risk and adaptation, produzido pelo Grupo Zurich, em parceria com a Economist Impact, empresa internacional de pesquisa da Economist Group, parceira de empresas, governos e ONGs na produção de relatórios e estudos de impactos sociais.
O levantamento ouviu 5.000 moradores (45% mulheres e 55% homens acima de 18 anos) das 10 maiores cidades do mundo (São Paulo, Amsterdã, Cairo, Cidade do Cabo, Dubai, Jacarta, Madri, Mumbai, Nova York e Tóquio), entre maio e setembro deste ano.
De acordo com o estudo, 32% dos entrevistados acham que sua cidade está “um pouco preparada” e mais de um quarto (28%) considera que sua cidade está despreparada para enfrentar as frequentes ondas de calor, inundações, escassez de água e poluição do ar que devem se tornar mais frequentes daqui para frente.
Os que acham que sua cidade não está preparada nem despreparada, somam 22% e somente 16% dizem que as cidades estão preparadas para este tipo de evento. Outros 2% não souberam responder.
Segundo o estudo, São Paulo é a cidade, dentre as 10 investigadas, com pior desempenho na pesquisa, ao lado de Tóquio. Na capital paulista, somente 3% dizem considerar que a cidade está preparada para enfrentar eventos climáticos, mesmo índice da maior cidade do Japão.
De acordo com o levantamento, para 96% dos paulistanos ouvidos a cidade está despreparada ou totalmente despreparada para os cenários de eventos climáticos extremos.
Segundo o levantamento, 41% dos indivíduos acreditam que os sistemas de gestão hídrica de suas cidades correm risco, indicando que problemas como secas, inundações e poluição da água são grandes preocupações nas cidades. Outros 33% estão preocupados com a infraestrutura energética. Sistemas de saúde são a preocupação de 31% dos entrevistados em caso de eventos climáticos extremos. Abastecimento de alimentos é apontado por 30% como ponto de vulnerabilidade, seguido por gestão de lixo e resíduos (27%), infraestrutura de transportes (24%), edificações (24%), serviços de emergência (22%), infraestrutura de comunicações (13%) e educação, mencionada por 11% dos entrevistados.
“Os resultados indicam que as pessoas estão preocupadas com os riscos climáticos e as soluções para minimizá-los”, diz Fábio Leme, Diretor Executivo de Personal Lines e Marketing da Zurich Seguros no Brasil. “Isso pode ser reflexo dos eventos extremos recentes ou da falta de informação sobre as medidas de adaptação em curso. É preciso dar uma resposta rápida e eficaz para a sociedade, bem como investir em medidas de adaptação e mitigação para reduzir os riscos climáticos e proteger as comunidades”, avalia o executivo.
Percepção do risco por perfil de entrevistado
O entendimento sobre os impactos das mudanças climáticas varia entre gênero e idade: 45% das mulheres são mais propensas a ver a “qualidade do ar em sua cidade” como o fator de maior risco, em comparação com 41% dos homens.
Em relação à idade, os mais velhos são mais sensíveis ao tema. 42% das pessoas com 65 anos ou mais dizem que os danos causados pela crise climática devem afetar a disponibilidade e a qualidade da infraestrutura pública das cidades. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a preocupação é mencionada por 25% dos entrevistados. O tema é apontado por 28% dos indivíduos de 25 a 34 anos, em 30% do grupo de 35 a 44 anos, e em 27% dos indivíduos entre 45 e 64 anos.
Papel do governo, empresas e da sociedade na construção da resiliência climática
O estudo também explora as opiniões dos moradores sobre quem deve liderar os esforços de resiliência climática. 50% citaram que é responsabilidade dos governos nacionais, e 46% disseram que são as lideranças políticas locais. Na avaliação deles, governos nacionais têm os recursos financeiros e o poder regulatório para implementar reformas de infraestrutura e políticas em larga escala, enquanto os governos locais conhecem mais de perto os desafios climáticos que as suas cidades e comunidades enfrentam.
Iniciativas individuais também são apontadas como vetor fundamental de adaptação das cidades aos desafios do clima, seguidas por atuação das empresas, de acordo com 31% da amostra. De acordo com o levantamento também devem ser responsáveis pelo problema as comunidades locais (26%), as organizações ambientais e ONGs (24%), organizações internacionais (20%), cientistas (13%), profissionais de saúde (12%) e investidores (11%)
Na avaliação de 57% dos entrevistados pelo levantamento, as prioridades desalinhadas em torno das mudanças climáticas nos diferentes níveis de governo tem sido um grande desafio.
Em países onde governos locais têm mais autonomia, essa preocupação é ainda mais acentuada, citada por 62% dos moradores de São Paulo, e por 71% de Jacarta, a maior metrópole da Indonésia.
“Existe uma percepção compartilhada de que a responsabilidade pela adaptação às mudanças climáticas nas cidades é ampla e multifacetada. Mas, existe um consenso de que tanto os governos nacionais quanto as autoridades locais desempenham um papel crucial nesse processo, liderando esforços coordenados”, afirma.
O estudo mostra que um dos exemplos de alinhamento de políticas públicas vem da Nova Zelândia. Desde 2022, os governos locais são obrigados a considerar planos nacionais de adaptação climática, com compartilhamento de dados e agendas políticas coordenadas em nível nacional, conforme destaca a pesquisa.
Empresas
No campo empresarial, menos da metade (26%) dos 5.000 moradores das 10 maiores cidades do mundo ouvidos pelo levantamento acredita que as empresas estão tomando medidas para reduzir os impactos das mudanças climáticas e facilitar a adaptação às mudanças. Para 22%, as iniciativas são moderadas
“Há um reconhecimento crescente da importância de combater as mudanças climáticas e que as empresas são vistas como parte da solução. No entanto, ainda há muito a ser feito para aumentar a transparência e o impacto das ações da iniciativa privada nessa área. As empresas devem comunicar de forma clara suas ações climáticas para aumentar a confiança dos stakeholders, estabelecer metas ambiciosas de redução de emissões, planejar estratégias robustas de adaptação às mudanças climáticas e colaborar com governos, sociedade civil e outras empresas para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono”, diz José Borba Bailone, Diretor Executivo de Seguros Corporativos e de Subscrição de Ramos Elementares da Zurich Seguros no Brasil.
Iniciativas individuais dos entrevistados
Quando se avalia a responsabilidade individual, um terço dos entrevistados se sente pessoalmente responsável pela adaptação climática em sua cidade e já tomou alguma medida nos últimos 12 meses, ou planeja fazê-las nos próximos 12 meses para se tornar mais resiliente às mudanças climáticas. 58% estão tomando ou planejam tomar medidas para se adaptar às mudanças climáticas.
As ações mais populares incluem autoeducação sobre o tema (75%), conservação de recursos hídricos (74%) e modificação de hábitos de consumo (69%).
Além disso, os moradores dessas cidades disseram ter um interesse significativo em melhorar a preparação para emergências climáticas e em se engajar com as comunidades locais.
“Fica claro que é crescente a conscientização sobre os impactos das mudanças climáticas e existe um desejo de tomar medidas para mitigar seus efeitos. As pessoas estão buscando informações, adotando práticas mais sustentáveis e se envolvendo em ações coletivas para construir um futuro mais resiliente. No entanto, é importante continuar investindo em educação, comunicação e políticas públicas para ampliar o alcance dessas ações e construir um futuro mais sustentável para todos”, diz Leme.
Obstáculos
Uma parcela dos entrevistados citou alguns obstáculos que a impede de tomar mais medidas de adaptação climática.56% dizem não confiar nas diretrizes dos governos para a adaptação climática. O custo é a principal barreira para 53%, e 49% não confiam na eficácia das estratégias existentes. Barreiras culturais são apontadas por 39%.
Outra barreira é não acreditar nos impactos das mudanças climáticas. 18% dos entrevistados não acreditam que as alterações no clima sejam uma ameaça significativa.
O desconhecimento das ameaças climáticas também foi avaliado pelo estudo. Em Amsterdam (28%) dizem não ter certeza de que mudanças climáticas são uma grande ameaça. No Cairo o índice é de 23%, Tóquio e Madri (21% e 20%, respectivamente). Em São Paulo, apenas 10% duvidam da ameaça do clima.
“Muitas pessoas podem não ter informações suficientes sobre as mudanças climáticas e seus impactos, o que pode minimizar a percepção de impacto dessas ameaças”, ressalta Leme, da Zurich. “Além disso, as mudanças climáticas são um processo gradual e de longo prazo, o que pode dificultar para as pessoas visualizarem seus impactos e a necessidade de agir agora. Isso reforça a importância de investir em educação ambiental e comunicação sobre as mudanças climáticas. É fundamental que as pessoas compreendam os riscos e os benefícios de agir para enfrentar esse desafio global. Uma resiliência sustentável é construída por meio de colaboração mútua entre governo, empresas e a sociedade”, aponta o executivo.
Conteúdo Comunicação
Foto: Fábio Leme, Diretor Executivo de Personal Lines e Marketing da Zurich Seguros no Brasil
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