No começo do mês de maio testemunhamos o início do que se demonstrou ser uma das maiores tragédias que assolaram o estado do Rio Grande do Sul. As enchentes que nos acometeram deixaram um rastro de destruição e desamparo, afetando profundamente as vidas de milhões de pessoas e a infraestrutura do estado inteiro. Entendemos claramente o que o estatístico Emil Gumbel expressava em sua famosa frase: “O impossível é que o improvável nunca aconteça”. E realmente, o improvável se demonstrou mais do que possível, quase que implacável.
Assim como milhares de outros gaúchos de todas as querências “de nosso Brasil”, alterei a minha rotina para cooperar, me unindo à sociedade civil, que se organizou como pode, ao setor privado, ao poder público e até as diversas forças de segurança que se fizeram presentes. Muitos, e eu não diferentemente, contribuindo como podiam – ou melhor, como podem, até porque pouco posso dizer que já passou.
As reuniões e encontros corporativos deram lugar a uma rotina de tentar fazer o possível para acolher pessoas, alocar, mobilizar e gerir recursos de todas as ordens para doações, buscar parcerias para fortalecer a corrente do bem que se estabeleceu. Fazendo, sobretudo, a minha parte para cuidar de todos que meus esforços, seja como pessoa física ou jurídica, puderam alcançar.
Na intensidade dessa jornada, me deparei com algo que me gerou diversas reflexões: a diversidade presente entre os afetados. Dentre os muitos e muitos gaúchos, vi diversos venezuelanos. Já maculados por uma trajetória difícil e emigrados em busca de conforto – afinal, Deus nos deu pés, não raízes – , estavam agora de igual forma sofrendo as agruras da tragédia. Ao fim de cada dia, vendo centenas de milhares que precisavam de algo, ou às vezes de tudo, tive a certeza de que somos mais iguais do que muitas vezes percebemos. Quanto à nacionalidade, origem ou classe social, estávamos juntos ali, eu e milhares de outros iguais, tentando ajudar outras centenas de milhares.
Ajudando ou sendo ajudados, vi amigos, amigos de amigos, colegas de trabalho ou até seus familiares, parceiros da Icatu Seguros e da Rio Grande Seguradora. Enfim, pessoas. Todos fragilizados pelo improvável que se estabeleceu com uma força que eu nunca tinha imaginado que poderia se fazer presente – mesmo estando gravado na história deste estado, mas no distante ano de 1941.
Hoje, enquanto as águas retornam, me sinto machucado pela experiência, mas mais consciente do que nunca de que solidariedade e empatia devem andar juntas. Estou certo do poder impressionante da força coletiva e da resiliência humana. Pessoas, famílias e comunidades buscam se reerguer com determinação, muitas vezes sem recursos mínimos ou com recursos insuficientes. Elas estão reconstruindo não apenas suas casas, mas também tentando reencontrar suas histórias e retomar suas vidas o mais próximo possível da normalidade.
É um momento que se precisa ter esperança, onde os inúmeros exemplos de solidariedade e a empatia que todos nós temos em nossas memórias e, com certeza em nossos corações, precisam ser os alicerces que reestabelecerão as nossas esperanças no futuro.
A solidariedade, como vimos durante as enchentes, se manifestou por meio de doações, apoio logístico e esforços conjuntos para oferecer alívio imediato e salvar vidas. Aprendi que a empatia faz toda a diferença, mostrando-se ainda mais importante quando muitos se colocam no lugar do outro, compreendendo dores e necessidades. Mesmo dentro da água, compartilham a dor de quem perdeu e a esperança de quem estava sendo acolhido. Empáticos, choraram juntos, sofreram, mas também tiveram motivos para muitas vezes respirarem aliviados e sorrirem.
Estar junto me fez entender as diferenças, mas também a importância das complementaridades. Durante alguns dias, vi a pequenez e a impotência dos homens frente a um desastre natural, mas também a grandiosidade das pessoas e, ressalto, a força da coletividade. Vi empresários expressivos e expoentes na sociedade, na economia do nosso estado e do nosso país, unidos a pessoas simples, por um mesmo propósito. Fazer a desesperança se transformar em esperança, às vezes em poucos minutos, pela intervenção assertiva de alguém cuja empatia saiu de sua zona de conforto e atendeu a tantas necessidades.
Muitos gestos e imagens marcaram minha história, mas sempre lembrarei do poder transformador da empatia e da coletividade. Quem tinha recursos, doou; quem tinha equipamentos, emprestou ou doou; quem tinha força física, ajudou como pôde. Mesmo aqueles sem recursos ou capacidade física participaram, oferecendo solidariedade. Como ouvi de uma senhora: “Estou orando por todos os socorristas e para que a normalidade se restabeleça.”
Agora, quando muitos acham que o que o Rio Grande do Sul viveu é passado, é importante lembrar que, infelizmente, não é. As águas afetaram mais do que o nosso passado; abalaram a infraestrutura do estado e feriram a felicidade do povo. Mesmo com a ajuda de gaúchos de coração de todo o país e do mundo, não há como dizer que estamos próximos de sair do estágio de calamidade.
Todos os dias, ao tentar retomar a normalidade, percebo que minhas histórias são muitas, mas pequenas diante do todo. Cada pessoa no Rio Grande do Sul carrega uma ferida aberta, seja própria ou de alguém próximo. Ao mesmo tempo, lembro do povo brasileiro ajudando o próprio povo, com inúmeros heróis anônimos que vi ou conheci, trazendo ânimo. As águas podem ter afetado o passado e prejudicado o presente, mas não abalarão a força e determinação do povo do Rio Grande do Sul, composto por gaúchos de coração de todas as regiões do Brasil e do mundo. Nascidos em diversos lugares, de variadas etnias e sotaques, formam hoje esta grande sociedade.
No fim das contas, vamos levantar-nos, mas se este se levantar será rápido ou não, se vamos sair menores ou quem sabe até mais fortes, tudo dependerá apenas de nós – pessoas, famílias, sociedades e governos. Da nossa postura frente a situação, da nossa (boa) fé, determinação e intensidade.
Por isso, peço que continuem torcendo por nós e por este estado. Façam-se presentes, de perto ou de longe. Se antes usar e consumir um produto gaúcho era uma opção, hoje é mais do que isso; é uma maneira de salvar um estado e dar a essa sociedade ferramentas para se reerguer com dignidade. Nosso objetivo não é ser o lugar onde o Brasil começa ou termina, mas voltar a ser um dos agentes de desenvolvimento econômico do nosso país, onde os brasileiros podem contar com nosso esforço e dedicação para contribuir com o progresso da nação.
A Icatu, além de ações voltadas para colaboradores, clientes, corretores e parceiros da região, doou recursos expressivos, alocou esforços e mobilizou parceiros. Sensibilizou suas redes de relacionamento para realizar doações e transferiu um de nossos principais eventos anuais, que reúne os maiores líderes do mercado brasileiro e que seria em Londres, para Gramado. Com isso, trouxe para nosso estado os recursos que seriam expatriados, visando fortalecer a economia local e auxiliar a retomada da normalidade. Este é o compromisso de nosso grupo empresarial e de nossa seguradora 100% brasileira, que busca praticar a empatia como seguradora de pessoas.
Finalizo este relato reforçando que tanto a empatia quanto a solidariedade não são apenas substantivos, ou meras palavras; são ações que traduzem nosso compromisso mútuo de cuidar uns dos outros. Que nos dão esperança nos homens. E, quando são expressas em grandes proporções, como o que vimos, nos dão esperança na humanidade. Tenho certeza de que vamos continuar avançando, lado a lado com o Brasil, rumo a um futuro mais resiliente, mas também mais próspero e com certeza muito feliz.
O Rio Grande do Sul está vivo, mas ainda precisa de todos nós.
Escrito por César Saut, Vice-Presidente Corporativo da Icatu Seguros e Presidente da Rio Grande Seguradora
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