“Estamos vivendo a segunda revolução da longevidade. A primeira está chegando ao final e garantiu que pessoas novas e de idade média chegassem aos 70 anos. Agora, a segunda revolução precisa mudar a forma como envelhecemos. Esse assunto é tão relevante quanto às preocupações atuais com as mudanças climáticas e as discussões sobre o impacto da Inteligência Artificial”, afirmou Andrew Scott, economista e professor da London Business School, na palestra de abertura durante XI Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, realizado pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) no último dia 27 de novembro de 2024.
Segundo Scott, os desafios atuais não estão em pensar no número de pessoas mais velhas que cresce todos os anos, mas em como nos adaptamos à vida mais longeva. Ele criticou a forma negativa de como a velhice é vista hoje, a partir de uma visão econômica distorcida. “A maior parte dos sistemas de saúde atualmente foca em tratar a doença, o que funciona bem com moléstias infecciosas, mas não com as doenças crônicas relacionadas diretamente ao envelhecimento como demência e diabetes. Precisamos focar em nos manter saudáveis. Gastamos mais em tratar doenças quando deveríamos gastar mais em manter as pessoas saudáveis”, disse.
De acordo com o economista inglês, se vamos viver mais, precisamos trabalhar mais. “O ponto é que temos de ser mais produtivos por mais tempo. Vamos ter de trabalhar por um período maior. Velhos precisam fazer parte da força de trabalho e não ser excluídos da força produtiva”.
Economizar mais dinheiro também não é uma solução viável, acrescenta Scott, explicando que isso significa, na lógica atual, privar-se para poder usufruir mais à frente. “Vamos viver o lazer em vários estágios da vida e não apenas nos últimos anos”.
Scott reconhece a dificuldade política de se pensar sobre isso. Apesar desse cenário estar mudando, a maioria das empresas mantém uma cultura de reduzir a contratação de pessoas com mais de 45 anos. Ele também participou do primeiro painel do Fórum, com o tema “Ciência e Tecnologia transformando a Previdência e Seguros: o que esperar do futuro?”, moderado pela vice-presidente da Fenaprevi, Ângela Assis.
Ciência e tecnologia para uma vida mais longeva
A médica geneticista da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, que também coordena pesquisas no Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, apresentou os atuais avanços científicos que buscam compreender as características de pessoas que vivem mais de 100 anos. Ela explicou que seu objetivo é identificar genes que contribuem para a longevidade excepcional.
O foco dos estudos, segundo Mayana, é entender como os genes regulam o organismo dessas pessoas e como isso ajuda a envelhecê-las sem doenças. A médica citou fatores ambientais e genéticos que contam nessa equação, mas “a influência da genética seria predominante em idades mais avançadas, chegando a representar até 80% da longevidade em pessoas acima de 90 anos”, explicou.
Ainda com foco na ciência, o médico e PhD em Ciência da Computação, Fábio Gandour (da COESA) destacou o papel da Inteligência Artificial como impulsionadora da genética, porém em nível computacional. Gandour também ressaltou fatores ambientais como responsáveis por cerca de 80% da nossa longevidade.
Mas acrescentou que, nesse contexto, os avanços tecnológicos, a melhoria do saneamento básico e da alimentação, além do acesso a cuidados com a saúde, o combate ao tabagismo, ao alcoolismo, e a busca por modos de vida saudáveis também contribuem para o processo de vivermos mais. “Em paralelo, o barateamento dos custos de certas drogas, bem como a distribuição delas pelo SUS no caso do Brasil, permitiu a popularização de medicamentos de alto custo. Todos esses fatores mudaram o perfil morfológico da humanidade nos últimos 50 anos”.
O mercado segurador no contexto da longevidade
Carlos Gondim, diretor-estatutário da Fenaprevi, destacou que as seguradoras vivem desafios cruciais diante da crescente longevidade, principalmente em relação aos produtos de vida e previdência. O executivo lembrou a importância do novo marco regulatório da previdência, aprovado em 2024, que entende oferecer maior flexibilidade para o desenvolvimento de produtos adaptados a todas as fases da vida.
“O seguro de vida vem mudando de perfil e as pessoas usufruem cada vez mais do produto em vida, tirando a carga negativa que sua imagem tem no Brasil”, diz. Gondim citou exemplos em outros países de proteções voltadas para pessoas acima de 60 anos com condições diferenciadas, e falou da necessidade de soluções específicas para esse perfil. Por fim, sugeriu também que promover a educação financeira de longo prazo para jovens é fundamental.
A diretora de Organização de Mercado e Regulação de Conduta da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Jéssica Bastos, levantou a necessidade do mercado de seguros e previdência ser “dinâmico e flexível para se adaptar às mudanças de perfil dos consumidores”. Segundo ela, a autarquia tem criado diversos grupos de trabalho com o objetivo de “ampliar o acesso ao seguro e reduzir preços, bem como promover a educação financeira”.
A moderadora do painel, Ângela Assis, concordou com os demais debatedores acerca da urgência de se estimular a sociedade a se preparar para a longevidade. Ela pontuou a necessidade das empresas terem esse novo olhar para o público 60+, como alertou o professor Scott, e da manutenção e criação de postos de trabalho para este perfil de profissionais, uma vez que eles também serão potenciais consumidores.
“Seremos mais longevos e se não houver um mercado de trabalho dando oportunidade para as pessoas 60+, naturalmente haverá um problema porque você também não vai ter consumidores. Então, esse é um dilema que as empresas precisam pensar mais, pois ainda há bastante etarismo no mercado de trabalho e precisamos considerar a ótica econômica para fazer girar o nosso mercado”, concluiu.
FSB Comunicação
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