A crise energética global teve um impacto significativo na transformação ecológica em curso. Até recentemente, o gás russo barato era considerado crucial para o crescimento econômico; porém, a invasão da Ucrânia pela Rússia alterou drasticamente essa dinâmica. Os choques econômicos e políticos resultantes ainda estão sendo mitigados e provavelmente terão efeitos duradouros.
Os custos de energia dispararam desde 2022, influenciados pela manutenção dos reatores nucleares na França, pelas condições climáticas desfavoráveis como secas que afetam as hidrelétricas na Europa, e pelo impacto do ataque aos gasodutos Nord Stream. Além disso, a fragilidade das cadeias de suprimentos tem exacerbado os custos, contribuindo para um cenário desafiador, tanto econômico quanto político.
No Brasil, a situação energética pode variar ao longo do tempo devido a diversos fatores, como condições climáticas, níveis de chuvas, operação das usinas hidrelétricas e políticas energéticas adotadas pelo governo.
No entanto, temos uma oportunidade de ouro: a aceleração da transição energética. No contexto atual, as empresas tradicionais de energia e os novos entrantes estão impulsionando o investimento. À medida que o crescimento econômico ocorre, a demanda por energia industrial aumenta e a mudança para energias renováveis deve ser acelerada.
No Brasil, há esforços para diversificar a matriz energética, com dois cenários promissores para produção de energia limpa: eólica e solar. Com mais de 32 GW de capacidade instalada, a energia solar fotovoltaica é uma das principais fontes de energia do Brasil, respondendo por mais de 13% da matriz elétrica nacional. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), essa capacidade inclui 12 GW de geração centralizada em grandes usinas e 20 GW de geração distribuída em sistemas residenciais e comerciais menores. Recentemente, o Brasil alcançou a marca de 1 milhão de sistemas de energia solar fotovoltaicos instalados, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), marcando um marco significativo no crescimento da geração distribuída, que permite aos consumidores produzirem sua própria energia. Em 2023, a tecnologia adicionou 7,2 GW e já beneficia mais de 1 milhão de consumidores.
Quanto à energia eólica, continua sendo uma promessa significativa para o Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o potencial de geração de energia eólica do país é estimado em cerca de 800 gigawatts (GW), capaz de atender mais do que o dobro da demanda atual. A energia eólica mantém-se como a segunda fonte mais importante na matriz elétrica nacional, atrás apenas da hidrelétrica. Os estados do Nordeste do Brasil detêm o maior potencial de produção de energia eólica, com capacidade instalada superior a 80 GW, representando mais da metade da capacidade total do país.
A energia eólica offshore também aparece como uma solução bastante interessante e está entre as prioridades do plano estratégico do país para o período de 2023 a 2027. A tecnologia utiliza a força dos ventos no mar para produzir energia renovável.
E qual o papel do setor de seguros nessa transição? Ele tem a responsabilidade de tomador de riscos, ciente de que o futuro da humanidade está diretamente ligado à forma como lidamos com os recursos naturais e ao tratamento de resíduos. Sua função é fundamental para apoiar o crescimento de energia renovável, tanto pela transferência de risco quanto pelo desbloqueio do acesso ao financiamento. Estamos vendo várias oportunidades de projetos em torno do armazenamento de energia, captura de hidrogênio e carbono se materializando, e é provável que essa tendência continue e se acelere. Prova disso é a construção de um dos maiores centros de energia renovável do mundo para produzir, armazenar e fornecer hidrogênio nos Estados Unidos.
À medida que as fontes de energia renovável aumentam, também cresce a necessidade de armazenamento de energia, sendo crucial equilibrar a oferta e a demanda. A natureza intermitente de algumas energias renováveis, como a eólica e a solar, também alimenta essa necessidade. Por essas razões, os futuros sistemas de armazenamento de energia provavelmente serão variados e complexos, exigindo gerenciamento de risco proativo e diversificação.
Grandes investimentos em tecnologias de transição e infraestrutura, estimulados pela crise energética, serão recompensados muito antes do esperado. Vale destacar a expansão do hidrogênio verde, que tem grande potencial para descarbonizar indústrias de alta emissão se implantado em escala comercial. Ainda assim, acarreta riscos que devem ser bem estudados e localizados, como vazamentos e incêndios. É fundamental contar com engenheiros que acompanhem de perto a evolução dessas tecnologias, pois trata-se de um setor em constante evolução.
Focando nos riscos associados à transição energética, eles variam dependendo da tecnologia utilizada, embora as mudanças climáticas possam agravá-los. Por exemplo, a vulnerabilidade da energia solar fotovoltaica a catástrofes naturais é evidente nas perdas recentes: a Europa sofreu um ano recorde de granizo em 2022, e a França registrou perdas seguradas recordes de quase US$ 5 bilhões. A energia eólica offshore, por sua vez, enfrenta os riscos de turbinas cada vez maiores, bem como os perigos de ambientes naturais como o Mar do Norte. A manutenção é complexa e pode ser perigosa, mas tecnologias emergentes podem trazer benefícios significativos.
Hoje, é imprescindível que as empresas se comprometam a cuidar do meio ambiente. Isso deve refletir-se nos serviços oferecidos aos clientes, com um claro foco na transição para net-zero, que é sinônimo de sucesso no médio prazo.
*David Colmenares é diretor geral para a América Latina da Allianz Commercial
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