Enquanto países com economia desenvolvida realizam campanhas de imunização, a vacinação insuficiente na Ásia e nos mercados emergentes pode causar caminhos de crescimento dessincronizados. A análise é do time de economistas da seguradora de crédito, Euler Hermes. Segundo o documento divulgado nesta semana, as estratégias governamentais intermitentes para lidar com o aumento de novos casos – embora mais moderadas do que as ondas anteriores – provavelmente continuarão.
Depois de se aproximar dos níveis pré-crise no primeiro trimestre de 2021, a economia global parece pronta para uma forte recuperação nos próximos trimestres, em meio a uma grande reabertura em várias economias desenvolvidas. “Esperamos que o PIB global cresça +5,5% neste ano, com os EUA sendo a única nação a alcançar um desempenho superior à sua trajetória pré-Covid-19. Na Europa, o retorno aos níveis pré-crise só acontecerá em 2022”, prevê a economista da seguradora, Patricia Romero.
Crescimento do comércio global
O relatório aponta que o comércio global deve se recuperar em 2021, mas os gargalos podem descortinar obstáculos de curto prazo. A seguradora projeta um crescimento de +7,7% em termos de volume (após -8,0% em 2020) e +15,9% em termos de valor (após -9,9% em 2020), apoiado por efeitos de base favoráveis, um mais intenso do que o esperado nos primeiros meses do ano e fortes importações nos EUA, Europa e China.
“De fato, a recuperação das exportações globais tem sido, até agora, claramente impulsionada pela região Ásia-Pacífico, com as exportações da maioria das outras regiões ainda abaixo das médias pré-crise. No entanto, o desequilíbrio global entre oferta e demanda pode ser agravado durante o verão [do hemisfério norte], devido aos novos surtos de Covid-19 na região, especialmente em Taiwan, do qual o mundo se tornou cada vez mais dependente do setor eletrônico”, afirma Romero.
De acordo com a análise da seguradora, o impacto desses surtos no volume de comércio provavelmente será temporário e limitado ao segundo tri (após o qual as epidemias nos centros de comércio dessa região devem ser controladas), enquanto a alta nos preços, devido à escassez de insumos, deve permanecer na maior parte deste ano.
Pressões inflacionárias
O documento mostra que os gargalos em termos de oferta (matéria-prima, capacidade de transporte, força de trabalho) provavelmente manterão a inflação em alta até o final de 2021. “As pressões inflacionárias globais estão em níveis recordes, mas a boa notícia é que elas são impulsionadas, principalmente, por preços de energia e valorização do dólar, que estão passando por altas temporárias. É provável que a inflação prevaleça até 2022, quando a pressão por mão de obra diminuir junto com o aumento dos preços dos insumos e ativos”, acredita a economista.
A competição para ter acesso à força de trabalho se intensificará com a grande reabertura econômica. O tempo necessário para a realocação da mão de obra pode pesar no ritmo da recuperação do mercado de trabalho, espelhado por números decepcionantes nos EUA em abril. No Reino Unido, a escassez de empregos se intensificou desde a segunda fase de restrições, também em abril, principalmente nos setores de transporte, construção, alimentação e hotelaria.
Taxa de juros elevada no Brasil
“No curto prazo, os bancos centrais continuarão altamente flexíveis (com algumas exceções, como Noruega, Nova Zelândia e Reino Unido até setembro de 2022). Espera-se que o FED (Federal Reserve System) reduza gradualmente as compras de títulos de 120 bilhões dólares por mês para 0 no segundo semestre de 2023, seguido por um primeiro aumento da taxa no segundo semestre de 2023”, afirma Romero. Para a economista, o BCE (Banco Central Europeu) continuará garantindo condições de financiamento atrativas durante a fase inicial da recuperação, mesmo com a inflação da Zona do Euro, provavelmente, ultrapassando 2,5% no segundo semestre de 2021. Alguns mercados emergentes devem ser uma exceção contra o aumento da inflação, já que a proteção do poder de compra real das famílias continuará sendo o foco em um ambiente de crescentes armadilhas de renda média e risco social.
“Esperamos que Brasil, Romênia, África do Sul e Nigéria elevem mais três vezes a taxa de juros até meados de 2022”, acredita.
Formulação de políticas: o intervencionismo ainda estará em ação em 2021. Evitar os erros de um aperto fiscal precoce ou desordenado será fundamental para a sustentabilidade da recuperação. O relatório aponta que a China já está empenhada em reduzir seus impulsos monetários/fiscais e outros países podem ser tentados a fazer o mesmo. No entanto, o encerramento prematuro dos mecanismos de assistência poderia, por exemplo, ser o estopim de uma nova onda de insolvências entre as empresas. Trazer perspectivas de longo prazo para o setor corporativo com projetos de infraestrutura e políticas industriais poderia restaurar a confiança e liberar o excesso de caixa no setor privado. No Reino Unido, por exemplo, a eliminação progressiva das medidas de apoio deve durar um ano inteiro.
Normalização do risco de crédito entre os setores
As intervenções estatais massivas ajudaram a suprimir uma onda significativa de insolvências em 2020, com o ano terminando com uma queda global de -12%, em vez de um aumento de +40%. O caixa nos balanços das companhias aumentou, mas o mesmo aconteceu com a dívida corporativa. Isso fará com que as empresas europeias aumentem suas margens operacionais para manter sua dívida sustentável (em 1,5 pp em média, todo o resto sendo igual). Além disso, a assimetria setorial do choque levou a uma ampla heterogeneidade entre os setores em termos de receita, lucros e impacto nos resultados.
As classificações de risco de crédito registraram fortes alterações nos setores que sofreram o impacto das restrições de forma negativa (hotéis, restaurantes e transporte) e positiva (químicos, farmacêuticos, varejo e agroalimentar). A Euler Hermes prevê que a recuperação global em levará a um reequilíbrio nas classificações de risco, mas a heterogeneidade entre os setores provavelmente prevalecerá até 2023.
Race Comunicação
Gráfico – Cenário Fed e BCE
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