Na última quinta-feira (06), a Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP – discutiu o tema “Investimentos Ligados a Seguros – ILS”. A live foi apresentada pelo diretor de Fóruns Acadêmicos, Edmur de Almeida, que também foi responsável pela coordenação do evento, e moderada pelo Presidente da ANSP, João Marcelo dos Santos.
Os participantes abordaram as particularidades e os desafios, além de regulação e estrutura para os ILS em mais uma edição do Café com Seguro.
Durante a abertura da palestra, João Marcelo ressaltou a relevância do tema e afirmou que a escolha da pauta e da data do webinar foi feita cuidadosamente, com o objetivo de viabilizar a compreensão da norma e oferecer subsídios aos profissionais que participarão da audiência pública da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, cujo prazo final para apresentação de sugestões ocorreu dia 11/08.
João Marcelo compartilhou a informação de que, como integrante do grupo, liderado pelo Acadêmico Rodrigo Botti, que formulou a proposta inicial de legislação, notou que essa proposta foi objeto de melhorias significativas por parte da SUSEP e agora foi colocada em audiência pública.. “Enxergamos nesse modelo de negócio uma grande oportunidade para reforçar a vocação do mercado brasileiro de seguros e resseguros de se tornar um polo regional na America Latina”, explicou.
Ainda segundo João Marcelo, a colocação de riscos no mercado de capitais com a utilização dos chamados insurance linked securities, em razão das regras estruturais do mercado brasileiro de seguros e resseguros, “teria que ser a colocação de um risco em resseguros e, para ser resseguro, tinha que ter como emissor dos títulos uma empresa resseguradora,. Daí surgiu a ideia de que o emissor da ILS deveria ser um ressegurador local especializado, com uma estrutura de governança e de capital mais enxuta”, contou.
No que diz respeito à emissão de títulos, a autarquia permite que resseguradores especializados emitam mais de uma série, desde que os riscos da primeira já tenham decorrido. Outro elemento agregado para dar mais consistência a esse modelo de negócio e que merece ser destacado é a impossibilidade dos adquirentes dos títulos pedirem a liquidação ou a insolvência do ressegurador emitente dos títulos. Vale destacar também que por ser uma operação tão diferenciada a Susep não permite transferência dessa “carteira”.
Na realidade, “o que parece uma estrutura muito complexa no final das contas acaba sendo uma coisa razoavelmente simples. Tem-se um ressegurador local que vai receber um risco num contrato de resseguros e emitir títulos por meio dos quais captará recursos que permitirão que esse risco seja 100% colateralizado”, analisou o presidente da ANSP. O elemento central do risco, quando se fala de ILS, não é, em geral, a operação global de uma seguradora, mas sim um determinado risco, parâmetro ou situação específica, como por exemplo, o caso de uma pandemia ou situações de riscos agrícolas e até mesmo outros riscos específicos ou a longevidade.
Em sua participação, o Acadêmico Rodrigo Botti, que teve papel central no desenvolvimento da proposta inicialmente apresentada para a SUSEP, trouxe informações sobre o conceito o histórico e dados referentes aos Investimentos Ligados a Seguros. “Esse é um segmento que tem crescido muito mais rápido do que se pensava. O mercado de ILS não tinha muita relevância no início do século e hoje representa quase $109 bilhões. Ou seja, em torno de 25% a 30% do mercado tradicional de resseguro. É um setor que está crescendo muito no exterior, indo para outras linhas de negócios e evoluindo muito bem.
E nós brasileiros temos o dever de aprender como se faz também”, advertiu.
Para elucidar como funcionaria o retorno de ILS Botti explicou que, do pontos de vista do investidor, trata-se geralmente um título de renda fixa – de 2 a 3 anos, com retorno de 2% a 8%, e está atrelado a um risco de seguro. Em caso de sinistro o investidor perde parte ou até cem por cento do cupom. Se não houver sinistro investidor recebe o capital aplicado de volta, mais os juros de compensação pelo risco assumido. “Então, para o investidor institucional que busca a diversificação, esse ativo tem grande valor”, assegurou.
Quanto às possibilidades de uso do ILS, Botti sinaliza um atraso por parte do Brasil, mas se mostra bastante positivo em relação às áreas que apresentam potencial para receber os investimentos. Segundo ele, é perfeitamente possível se criar proteções customizadas, como já ocorre na América Latina. E as proteções contra apagão, desmoronamento e agro – complementando o seguro agrícola são apenas algumas das que podem ser implementadas. O executivo acredita que o modelo também se encaixa para as áreas de tecnologia, rojetos de infraestrutura e seguros de crédito, garantia (com calda curta) e de vida.
Para o presidente da Swiss Re Southern Cone e vice-presidente da FENABER, Frederico Knapp, os maiores desafios para o mercado segurador serão identificar em quais tipos de riscos será possível aplicar o ILS e em relação a distinção do termo. “Isso porque existem riscos de calda longa e riscos de calda curta. Então é preciso ter muito claro como irá funcionar todo esse arcabouço relacionado a esses riscos. Como vincular esses riscos a títulos”, sintetizou.
Por sua vez, Frederico Knapp comentou o fato de que tudo dependerá do apetite do mercado de capitais e dos investidores em geral para aproveitar essa oportunidade de diversificação.
Na visão de Franklin Nogueira , diretor de Crédito e Riscos Políticos da Lockton Brasil, o ILS é uma estrutura inovadora e insere o Brasil em um mercado que tem se expandido significativamente, principalmente nos Estados Unidos. E nesse contexto, o papel do corretor para a distribuição desse produto de seguro é bastante desafiador. Nogueira explica que os profissionais com atuação internacional já configuram uma estrutura de distribuição de seguros, resseguros e também com uma conexão ou uma estrutura verticalizada dedicada ao mercado de capitais. Esse serviço agregado ao ambiente de seguro busca trazer serviços direcionados para empresas gestoras de ativos, fundos privados ou fundos de previdência que investem ou tem potencial de investir nessas estruturas novas oferecendo capacidade para assumir esses riscos.
Para o executivo, essa é uma evolução que veio pra ficar e que, além dos desafios, traz consigo oportunidades. “O mercado segurador e o de capitais brasileiros não são óbvios, não se conversam. E agora, com o ILS, cria-se uma nova forma de colocação de riscos e uma intersecção entre esses dois mundos. E o melhor de tudo é que as negociações por meio de uma estrutura de securitização tendem a contribuir para um crescimento exponencial da indústria de seguros”, estimou.
Assista a live completa no canal da ANSP
https://lnkd.in/diCNUwa
Oficina do Texto
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