Nos últimos anos, vivenciamos uma explosão nos índices de burnout, depressão, ansiedade e solidão entre trabalhadores. A saúde mental saiu da invisibilidade e passou a ser prioridade para empresas e gestores públicos. A decisão do Ministério do Trabalho de atualizar a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), incluindo diretrizes sobre riscos psicossociais, reflete esse novo cenário. No entanto, sua implementação foi adiada para 2026. Ainda assim, o tempo não deve ser usado como justificativa para inércia. A transformação das relações de trabalho precisa começar agora.
O risco psicossocial está diretamente relacionado a fatores como estresse ocupacional, assédio moral, esgotamento, sobrecarga e relações hierárquicas abusivas. E, apesar de muitas empresas já promoverem ações de bem-estar – como aulas de mindfulness, programas de escuta ou sessões de terapia –, essas iniciativas, embora relevantes, são insuficientes se não vierem acompanhadas de mudanças estruturais na cultura organizacional.
A realidade é que ainda operamos sob uma lógica ultrapassada, que romantiza o excesso de trabalho como sinônimo de produtividade. A cultura do workaholism, a falta de valorização do indivíduo e a prevalência do microgerenciamento contribuem para ambientes tóxicos. Pesquisa da McKinsey realizada em 15 países revelou que 70% dos sintomas de burnout são causados por ambientes de trabalho tóxicos – que também respondem por 73% dos pedidos de demissão.
No Brasil, essa realidade se reflete nos números crescentes de afastamentos por saúde mental. Em 2023, foram mais de 472 mil casos registrados, sendo que mais de 140 mil estavam relacionados à ansiedade e mais de 113 mil à depressão. As mulheres, em especial, foram as mais afetadas, representando quase dois terços dos casos. E, segundo estudo da Reconnect em parceria com a Pin People, apenas 49% dos trabalhadores estão satisfeitos com o suporte ao bem-estar oferecido pelas empresas. Os principais sentimentos associados ao trabalho são ansiedade, frustração, estresse e sobrecarga.
Diante desse cenário, é preciso compreender que promover a saúde mental não é um tema periférico – é uma necessidade estratégica. Para isso, é fundamental redesenhar práticas e rotinas. Avaliar, por exemplo, se uma reunião é de fato necessária ou se poderia ser resolvida por e-mail; assegurar que todos os participantes sejam relevantes à pauta; e manter comunicações mais objetivas são práticas que reduzem o desgaste cotidiano.
Lideranças têm papel central nesse processo. O comportamento dos gestores influencia diretamente a saúde mental da equipe. Lideranças tóxicas e assediadoras continuam sendo frequentes. É urgente que líderes compreendam a importância de cultivar uma cultura mais empática, colaborativa e justa. Prevenir é mais eficiente e menos custoso do que remediar os efeitos do esgotamento.
A construção de ambientes saudáveis parte do reconhecimento dos ofensores da saúde mental e da criação de espaços de trabalho diversos, equitativos e acolhedores. A segurança psicológica, conceito desenvolvido pela professora Amy Edmondson, da Harvard Business School, é um componente essencial nesse processo. Ela se apoia em quatro pilares: aceitar os erros como oportunidades de aprendizado; garantir uma comunicação transparente; promover colaboração em vez de competição; e investir na diversidade.
Essas diretrizes devem orientar um novo modelo de gestão, no qual o bem-estar não seja visto como antagonista da produtividade, mas como seu maior aliado. Ambientes que promovem saúde mental tendem a ser mais engajadores, inovadores e sustentáveis. O compromisso com a saúde dos trabalhadores não é apenas uma questão de responsabilidade social – é uma estratégia inteligente para o futuro do trabalho.
É hora de entender que o verdadeiro desafio não é apenas cumprir a norma, mas transformar profundamente a cultura corporativa. Isso exige coragem, consistência e, sobretudo, liderança.
Betini Comunicação
*Por Renata Rivetti, fundadora da Reconnect, palestrante, consultora e colunista da Fast Company Brasil.
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