A evolução do setor segurador em termos de boas práticas relacionadas às questões ambientais, sociais e de governança (ASG) foi o tema do primeiro dia da Oficina Brasil FIDES de Inovação em Seguros, realizada pela CNseg, em 13 e 14 de abril, em Brasília. O segundo dia do evento abordará, então, a questão da segurança cibernética.
“Nosso objetivo principal é discutir e explorar novas visões de negócios voltadas à construção de parcerias para o endereçamento de temas estratégicos relacionados à cibersegurança e ASG”, afirmou a diretora de Sustentabilidade, Consumo e Relações Institucionais da CNseg, Ana Paula de Almeida Santos.
Segundo dados do Relatório Global Risks Report 2023, do Fórum Econômico Mundial, anunciados em janeiro deste ano, riscos ligados à cibersegurança, bem como aqueles associados a questões ASG (com maior peso para mudanças climáticas), estão listados como os de maior preocupação global para os próximos anos.
Avaliação de riscos climáticos contará em breve com nova ferramenta de apoio
O projeto “Insuring the Climate Transition in Brazil”, que tem o objetivo de fomentar o melhor entendimento dos representantes do setor segurador sobre como analisar o risco climático, foi apresentado pela sócia-diretora da consultoria NINT de avaliação ASG, Tatiana Assali. Elaborado sob a perspectiva da Força Tarefa para Divulgação de Informações Financeiras Relacionadas a Riscos Climáticos (TCFD, na sigla em inglês), o projeto conta com uma ferramenta alimentada com dados das companhias de seguro, que será capaz de mapear os riscos climáticos em todos os estados brasileiros e medir as suas exposições a 12 desses riscos.
Os requisitos de sustentabilidade na regulação da SUSEP
Os coordenadores da Susep de Regulação Prudencial e de Regulação de Riscos, Ativos e Controles Internos, César Neves e Victor de Almeida França, apresentaram um painel sobre o acompanhamento da regulação brasileira de seguros relacionada a requisitos de sustentabilidade, prevista na Circular Susep 666.
De acordo com César Neves, a norma foi elaborada com base nas melhores práticas internacionais e em uma grande discussão com o mercado segurador, demandando que as supervisionadas adotem metodologias, processos, procedimentos e controles específicos para identificar, avaliar, classificar, mensurar, tratar, monitorar e reportar, de forma tempestiva, os riscos de sustentabilidade a que se encontram expostas.
O coordenador da Susep afirmou que a Superintendência de Seguros Privados tem o compromisso de, junto com as empresas do setor, buscar soluções para combater os efeitos das mudanças climáticas.
Diversidade, equidade e inclusão
O tema da diversidade, equidade e inclusão também esteve presente no primeiro dia do evento, quando a conselheira da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Íris Pereira Barbosa, destacou a importância de as seguradoras se preocuparem com aumentar a diversidade de gênero, raça e condições sociais em suas companhias. “Existe hoje uma exigência da própria sociedade, em todo o mundo, com relação a isso. Há também uma pressão econômica, porque é possível verificar pelas estatísticas que empresas diversas geram mais e melhores resultados”, afirmou palestrante.
Durante sua participação, ela falou sobre sua trajetória profissional e os desafios enfrentados por uma mulher negra para ultrapassar as barreiras impostas pela sociedade, explicando que, além de conscientização, é necessário coragem para enfrentar as dificuldades.
A integração das questões socioambientais e de sustentabilidade com a indústria seguradora
Atualmente, 86,4% das seguradoras associadas à CNseg já integram as questões ASG em suas estratégias de negócios, como consta no Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros, produzido pela CNseg, tema da palestra da diretora de Sustentabilidade da Mapfre Brasil, Fátima Lima, que também integra a Comissão de Sustentabilidade da Confederação. Sua avaliação é de que há uma total integração das questões socioambientais e de sustentabilidade com a indústria seguradora. “Temos que estar conectados às tendências mundiais econômicas, políticas e sociais. As questões climáticas vêm impactando cada vez mais o setor de seguros, o que nos exige atenção aos prejuízos que estão batendo à nossa porta. É fundamental olhar com profundidade e seriedade este tema”, disse Fátima Lima.
Países do Cone Sul ainda carecem de regulações sobre a questão ASG
Os temas ASG também estão na pauta dos demais países latino-americanos e podem ganhar ainda mais espaço nessa agenda, de acordo com os relatos de representantes das associações de seguradoras da Argentina, do Paraguai e do Uruguai.
O diretor-executivo da Associação Argentina de Companhias de Seguros, Gustavo Trias, afirmou que em seu país o assunto é recente e que ainda carece de normas regulatórias.
O diretor-executivo da Associação Uruguaia de Empresas de Seguros, Alejandro Veiroj, participando por videoconferência, relatou que no Uruguai também não há nenhuma norma ou regulamentação a respeito do tema ASG, apenas um protocolo de intenções das empresas que atuam no mercado local.
O presidente da Associação Paraguaia de Companhias de Seguros, Antonio Vaccaro, por sua vez, informou que também há deficiências regulatórias em relação aos riscos climáticos no Paraguai. A oferta de seguro agrícola, inclusive, ainda é recente, declarou, com poucas empresas trabalhando com esse tipo de cobertura.
A Oficina Brasil FIDES de Inovação em Seguros é realizada em cumprimento ao Acordo de Cooperação Técnica firmado em novembro de 2022, em Santiago, no Chile, com a Federação Interamericana de Empresas de Seguro e antecede a 38º Conferência Hemisférica de Seguros, que a Confederação Nacional das Seguradoras vai promover em setembro deste ano, no Rio de Janeiro.
Hill + Knowlton Brasil
Foto: Oficina Brasil FIDES de Inovação em Seguros – (Crédito: Rafael Chaves)
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