Hoje de manhã, fui à padaria e comprei alguns pães para o café da manhã. Os pães estavam lá, e para que isto acontecesse, o padeiro comprou equipamentos, matérias primas, contratou funcionários, e depois de um ciclo de trabalho, produziu os pães que eu comprei.
Este é o ciclo de produção. Ao contrário da maioria dos outros bens e serviços, os relacionados ao mercado do seguro só são produzidos depois de adquiridos pelos segurados. Por exemplo, no seguro patrimonial, os prêmios são normalmente pagos quando o contrato é assinado, mas a compensação é paga pelas seguradoras somente depois que um sinistro ocorre, é avisado e por fim, liquidado, o que pode levar vários anos.
Isso ocorre porque seria muito difícil, na prática, cobrar posteriormente os prêmios de todos os segurados que não sofreram uma perda significativa. Nos seguros de vida ou de responsabilidade profissional, o intervalo de tempo entre o pagamento dos prêmios e o pagamento da indenização (a duração do ciclo de produção) pode ser superior a vinte anos. Assim, os verdadeiros custos de produção da companhia (os sinistros) são revelados apenas muito tempo após o negócio ter sido subscrito e os prêmios pagos.
Isto leva a um problema relevante. Não é muito difícil para uma seguradora sub-reservar (ou seja, subestimar os passivos de seguro nos balanços da empresa) ao longo de vários anos. Assim, ela pode financiar perdas de anos de subscrição passados por sub-reservas para os recentes, ocultando assim perdas ou erros de gestão por bastante tempo. Esse fenômeno é uma preocupação importante no setor securitário, como escreveu Warren Buffett em sua carta de gestão de 2002: “Posso prometer a vocês que nossa principal prioridade daqui para frente é evitar reservas inadequadas. Mas não posso garantir o sucesso. A tendência natural da maioria dos gerentes de seguro é a sub-reserva, e eles devem ter uma mentalidade específica – que, pode surpreendê-lo, não tem nada a ver com conhecimento atuarial – se quiserem superar esse viés devastador”.
Se este tipo de problema é especialmente grave, em algum ponto futuro a seguradora será incapaz de pagar os sinistros aos seus segurados. Pensando neste tipo de questão, uma regulação e uma agência foram pensados para este mercado. No Brasil, nosso regulador é a SUSEP – Superintendência de Seguros Privados.
Sua responsabilidade primária é evitar que os segurados não consigam receber suas indenizações. A principal ferramenta de regulação é a exigência de um capital mínimo para operação. Na padaria, o capital é o dinheiro investido nos equipamentos, como o forno, por exemplo. Nas seguradoras, o capital é uma reserva financeira, um colchão para garantir o pagamento de indenizações futuras que, porventura, ultrapassem os prêmios deduzidos de demais despesas. Quanto mais capital, mais improvável fica uma inadimplência por parte da seguradora. Contudo, isto não vem sem um preço: reduzir a zero esta probabilidade demandaria capital infinito, e, portanto, um preço infinito por apólice. Um equilíbrio é necessário.
Em muitos mercados, os métodos de determinação de capital mínimo são padronizados, oferecendo algum nível de segurança, mas ainda incapazes de fornecer uma informação específica sobre a efetiva solvência da seguradora. Neste aspecto, as agências de classificação de risco (rating) ajudam a completar esta tarefa.
Ao analisar uma seguradora, a agência faz uma diligência bastante exaustiva sobre os números, governança, políticas e práticas da administração, o que se traduz na classificação final. Este rating tem um significado muito importante. Por exemplo, a agência A.M.Best calcula que um rating AAA tem uma probabilidade de inadimplência de 0,03% em um ano. Ou seja, a chance de receber de volta o sinistro, caso ocorra, é de 99,97%, um número que parece bem razoável.
Além disso, ao fazer a diligência, a agência de classificação de risco também busca saber se as reservas estão adequadas, fornecendo escrutínio adicional sobre a qualidade dos números da seguradora. Assim, o rating se torna uma camada adicional de transparência e segurança para clientes, funcionários, reguladores e acionistas, adicionando informações valiosas para que o mercado de seguros possa se desenvolver de maneira sustentável.
Por Rodolfo Arashiro Rodriguez – Diretor de Risco e Compliance da Austral Seguradora (foto)
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