“Seguro não é para mim”. “É muito caro”. “É para outro público”. Mesmo que o leitor não seja dessa área, especificamente, é bem possível que a maioria já tenha se deparado com essas frases em alguma conversa. Esse discurso é um reflexo, primeiramente, de um país com muitas desigualdades e, em segundo lugar, de uma cultura securitária que ainda engatinha em um Brasil de muitas realidades.
Desde que comecei a empreender, venho pensando em soluções que possam caber no bolso das classes C, D e E. São públicos desprovidos de um olhar atento do mercado que, muitas vezes, prioriza o topo de pirâmide, novamente reproduzindo um sistema estrutural. Venho notando que, nos últimos cinco anos, passamos por uma verdadeira transformação digital, com um número crescente de pessoas conectadas e com acesso a smartphones.
Esse cenário se reflete, obviamente, no segmento de insurance, com empresas seguradoras e insurtechs oferecendo soluções mais convenientes e adaptáveis ao poder aquisitivo dos consumidores. Atualmente, um indivíduo consegue aderir a uma apólice com poucos cliques de um celular e, em questão de horas, aquele seguro – residencial ou auto – já estará disponível.
Não se pode subestimar o poder de decisão das parcelas menos favorecidas da sociedade. Recentemente, tive acesso a uma pesquisa da PwC Brasil, em parceria com Instituto Locomotiva, com foco nas classes C, D e E. O estudo revelou insights valiosos desse grupo de consumidores, que representa 76% da população e responde por quase metade do consumo no país. Batizado como “Mercado da maioria”, o levantamento apresenta um mapeamento dos indicadores que devem ditar transformações relacionadas ao consumo.
De acordo com essa pesquisa, que consultou 2.388 pessoas, esse segmento está atento a alguns fatores, como novas propostas de ampliação do poder aquisitivo da população, por meio de programas e políticas sociais, maior acesso ao crédito e aos ambientes digitais. E aqui, gostaria de sublinhar um ponto: novos formatos de avaliação dos clientes, como os modelos de crédito pré-pago, são necessários em uma nação peculiar como o Brasil.
Outro estudo que me chamou a atenção foi do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), que apontou um salto de 80% para 84% na quantidade de domicílios conectados no Brasil, entre 2022 e 2023, E adivinhe qual a parcela impulsionou esse avanço?
As classes C, D e E lideram o crescimento da conectividade nos nossos lares. No eixo “C”, houve um incremento de 56% para 91% e, no recorte “D/E”, o aumento foi de 16% para 67% – em ambos os casos, entre os anos de 2015 e 2023.
A melhoria da conectividade em um país continental como o Brasil – repartido em 27 unidades federativas e cinco regiões que são, praticamente, países de tão distintas – possibilita que haja acesso. Mas isso somente não basta: é imprescindível que nós, empresários, estejamos atentos a esse público consumidor e pensemos em soluções dirigidas. É preciso que nós nos adaptemos mais à audiência do que o fluxo inverso.
Por Reinaldo Aguimar, co-fundador da OON Seguradora
Foto: Reinaldo Aguimar
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