De acordo com informações da Swiss Reinsurance Company, os ataques de 11 de setembro representaram o terceiro maior prejuízo no mercado de seguros e resseguros, ultrapassando US$ 23 bilhões. No topo do ranking está o furacão Katrina, que, em 2005, gerou um impacto superior a US$ 72 bilhões às empresas do mercado segurador/ressegurador.
Tanto no 11 de setembro quanto nos atuais conflitos da Europa, nos encontramos em uma situação delicada: fazer a gestão dos riscos que não existiam no momento do fechamento dos contratos securitários.
A guerra e o impacto no seguro: oferta e demanda
Durante a Brokerslink Conference 2022, que aconteceu em Portugal, o conflito entre Rússia e Ucrânia foi discutido. Ao longo do evento, o jornalista e especialista em Assuntos Externos e Diplomacia internacional, Tim Marshall, liderou o painel “The power of geography in global politics” e destacou esse e outros momentos da história em que conjunturas geopolíticas e situações de guerra tiveram efeitos devastadores sobre a economia global e a sociedade civil.
Um efeito imediato é percebido enquanto a guerra acontece: o crescimento na procura pelo seguro devido a percepção mais elevada quanto à riscos e aumento de custos de capital envolvidos em transações. Similarmente, mas até então em menores proporções, a pandemia do Covid-19 gerou maior demanda na contratação de seguros de vida e saúde, por exemplo.
Ressalta-se que o desafio do setor não é a exposição direta no conflito militar, já que este cenário tipicamente consta nas apólices como exclusão padrão das coberturas contratadas (salvo contratações especificas, como a Aviation War Coverage, que abrange esta situação em apólices do ramo da aviação), mas as consequências indiretas que exacerbam as estimativas de prejuízos relacionados ao cenário internacional e o impacto na economia, comércio internacional e bem-estar social.
O agronegócio, logística e a segurança cibernética se destacam como áreas altamente afetadas. No caso do agronegócio, temos a possível falta de suprimentos e pressão por aumento de produção por países fornecedores de commodities não envolvidos no conflito, considerando ainda o impacto previsto do terceiro ano consecutivo do La Nina – efeito climático, que acomete diretamente a produção brasileira de soja e, que potencializa a complexidade das renovações dos contratos automáticos das Seguradoras e disponibilidade de capacidade de resseguro para cobertura das Apólices deste ramo.
Em relação ao seguro de riscos cibernéticos, a maior dificuldade é demonstrar aos clientes com clareza a conexão da diminuição de apetite para este tipo de risco e, a revisão dos parâmetros de aceitação destas apólices devido às ameaças inerentes à guerra.
Inevitavelmente, os preços das coberturas securitárias se elevam e, no caso da logística internacional, cabe aos gestores de risco das empresas, que compõem o Supply Chain e resseguradores trabalharem em parceria, objetivando criar planos de contenção de ameaças e novas alternativas em termos de fornecimento, até mesmo possíveis ajuste de rotas e revisão de custos de frete, tornando o processo logístico economicamente funcional e viável.
A conjuntura internacional e os resquícios da pandemia adicionam insegurança crescente à população mundial, elevando a inflação e causando instabilidade no mercado financeiro, o que impacta os investimentos dos resseguradores globalmente.
Por caber ao resseguro a função primordial de manter solvente às Seguradoras que apoiam, cumprir seus compromissos financeiros junto ao cliente final e amparar a reconstrução após grandes perdas, as companhias do setor precisam do respaldo de profissionais qualificados, capazes de desenvolver estratégias coerentes e realistas para lidar com a incerteza dos próximos anos.
Grupo Printer
*Por Marjorye Hoejenbos, Diretora de Resseguros da MDS Brasil
Imagem: YouTube
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